Os estudantes da UCS deram uma demonstração de força em 2008. Há oito dias, ocuparam o Galpão da UCS em uma vigília para tentar barrar o aumento das mensalidades. A ocupação é um ato extremo como também era extremo a falta de compromisso da Universidade para com as reivindicações dos acadêmicos. Durante um ano o DCE reuniu com a reitoria, tentou compor comissões e em nenhum momento essas discussões resultaram em avanços, muito antes pelo contrário, a Reitoria usou da sua gigantesca maioria nos conselhos para empurrar goela abaixo sua política.
Cansados dessa situação os estudantes protagonizaram um grande ato no dia 28 de outubro. A UCS parou no turno da noite. Uma manifestação, que chegou a mobilizar 2.000 estudantes, percorreu todos os blocos da universidade dialogando com os estudantes, que muitas vezes constrangidos pelos professores, continuavam em sala de aula. O resultado da mobilização foi o término das aulas no turno da noite e uma grande concentração na frente da reitoria, onde foi entregue um manifesto com as reivindicações dos estudantes.
Mas já sabíamos que a Reitoria não levaria a sério as reivindicações, portanto, foi necessária uma atitude mais extremada que foi a retomada do Galpão para uso dos estudantes e, nesse lugar, realizar uma vigília como forma de pressionar os conselheiros do Consuni (Conselho Universitário) e do Conselho Diretor.
A reunião do Consuni mostrou-se um jogo de cartas marcadas. Só foram apresentados os números que justificavam o aumento por pressão dos dois conselhos estudantis. Ao resto dos conselheiros coube o constrangedor papel de ficar em silêncio. Em um conselho composto majoritariamente por membros indicados pelo Reitor (21 dos 35) o resultado final já era esperado. Por 30 votos a 2 o reajuste de 7,04% seria enviado ao Conselho Diretor. O mais decepcionante foi a insensibilidade dos conselheiros para com as reivindicações. Pareceu que as aulas não foram interrompidas na noite anterior, pela ausência dos estudantes em sala.
No dia seguinte uma nova atitude da Reitoria nos deixou indignados. Os estudantes que estavam em vigília no Galpão da UCS foram surpreendidos pela Brigada Militar, um oficial de justiça e o advogado da UCS, que vieram com o objetivo de retirá-los do local. Foram dadas duas opções: sair de forma amigável, ou seria utilizada força. Outro ato que lembrou os anos de chumbo foi a demissão, por perseguição política, do presidente do Diretório Regional de Estudantes de Canela, Felipe Bellé, bolsista da UCS Canela. Felipe e os demais colegas de Canela realizaram um ato contra o aumento, na quarta-feira (29/10). Se não bastasse o prédio da reitoria estava fechado para os estudantes desde terça-feira (28/10). Todas as janelas estavam com correntes e cadeados. Todas as portas trancadas, e na única entrada possível estava guardada por seguranças.
A atitude antidemocrática que a UCS tomou causou revolta. Indignados, um grupo de estudantes, em uma ação ousada, conseguiu entrar no prédio da reitoria e se alojar no Gabinete do Reitor, que não estava em Caxias do Sul. Para sair, as exigências dos alunos eram quatro: a readmissão do presidente do DRE, a abertura do prédio da reitoria para acesso aos estudantes, a retirada do processo de reintegração do Galpão e o acesso do DCE à reunião do Conselho Diretor. Com a chegada do Reitor e depois de muita negociação os ocupantes conseguiram o cumprimento integral das exigências. Foi vencida a tentativa de criminalização dos estudantes.
Para quem não estava ocupando o gabinete do reitor, o dia foi de bastante mobilização. Foram feitas muitas passagens em sala de aula, uma reunião almoço com os Diretórios Acadêmicos, no Galpão ocupado e a articulação de um ato para a reunião do Conselho Diretor, que aconteceria no final da tarde. Este ato, de forma criativa, demonstrou a indignação com os atos ditatoriais tomados pela UCS. Dezenas de estudantes realizaram o enterro da democracia na UCS, com direito a cortejo fúnebre pela universidade.
Mas o Conselho Diretor mostrou-se indiferente às manifestações e aprovou um índice de 6% de reajuste. O reajuste é menor do que o proposto, abaixo da inflação, mas mesmo assim longe das expectativas dos acadêmicos.
A pauta econômica estava vencida. As mensalidades foram reajustadas. Cabia agora a mobilização para as outras reivindicações. Para isso foi constituída uma comissão com três integrantes dos estudantes e três da Reitoria. Durante todo o final de semana foram realizados debates e outras atividades de integração, transformando o Galpão novamente em um espaço de integração.
Agora chegamos ao momento de avaliar o processo todo. Não podemos dizer que foi extremamente vitorioso, mas também não foi uma derrota total. A força de mobilização dos estudantes mostrou a reitoria que ela não pode mais ignorar a nossa voz. Mostrou também que não toleraremos a criminalização do movimento estudantil, nem de qualquer outro movimento. Deixou evidente que o Consuni e o Conselho Diretor são conselhos que não representam anseios do conjunto da comunidade universitária.
O DCE e os DAs saem da vigília no Galpão da UCS e das manifestações com uma pauta que não esgota com o reajuste das mensalidades. Essa pauta contém prioritariamente, mas não somente:
- Construção da Casa do Estudante;
- Ampliação da Creche Universitária, principalmente para atendimento dos filhos e filhas das estudantes;
- Nova forma de gestão do Galpão da UCS com sua reabertura para as atividades dos DAs;
- Fim das perseguições às lideranças estudantis;
- Realização imediata do Congresso Estatuinte para a reforma dos Conselhos da UCS e FUCS;
- Ampliação da política de descontos nas mensalidades;
- Adequação da UCS a nova lei dos estágios;
- Elaboração de um plano de assistência estudantil com recursos próprios;
- Continuidade do grupo de discussão sobre inadimplentes;
- Revisão dos contratos do Seguro Educacional.